quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Ela...

De súbito, ela chega
E, quase sempre, nos pega sempre de surpresa.
Paradoxal dor prazerosa,
Ela nos enche de uma alegria triste,
Aquela das partidas-chegadas da vida
(Que levamos uma vida para não entender!)
Ela, que nos faz sorrir a troco de lágrimas;
Que conjuga o presente
Com um pretérito perfeito imperfeito.
Ela, garota travessa que bem nos conhece
E, com seu jeito matreiro, nos convida a brincar de reviver.
Ela... a saudade!

(Ênio César de Moraes) 

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Segredando

Tenho segredos...
Mas quem não os tem?
Daqueles que guardamos bem escondidinhos,
Que não revelamos a ninguém?!
Uns bobos,
Outros comprometedores,
A serviço do mal e do bem!
Que nos fazem poderosos,
Que despertam fantasias,
Que mudariam, por um segundo, a vida de alguém;
Que, desconhecidos, são irrelevantes;
Cuja possibilidade de revelação assombra, porém;
Que nos tiram o sossego e o sono,
Que nos levam de algozes a reféns...
Conto-lhe um segredo,
Em sinal de confiança — veja bem!
Tenho, sim, segredos...
Mas, afinal, quem não os tem?!

(Ênio César de Moraes) 

domingo, 4 de outubro de 2009

Apelo

Aquece-me com teu calor,
Sinto frio.
Acalenta-me o coração
Com teu olhar,
Com tua palavra,
Com teu toque,
Com tua alma,
Com teu ser.
Faz-me uma pessoa melhor,
Menos egoísta,
Mais justa
E menos só.

(Ênio César de Moraes) 

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Crescer dói

Um chorinho dorido, magoado, inocente
Pleno de sinceridade
Parte corações, solidariamente chorosos,
Pejados das dores — inevitáveis — do mundo.
Lágrimas imaculadas
De um ser indefeso
Que conhece, inesperadamente, o medo
Enternecem crianças crescidas
Que, com as agruras da vida,
Engolem o choro em segredo;
Que, ensimesmadas, vivenciaram a dor de crescer.

(Ênio César de Moraes) 

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Amar, verbo pronominal

Eu me amo,
Tu te amas,
Ele se ama.
Assim nos amamos,
Assim, somos felizes!
Amo-te porque me amo,
Alegro-me com a tua alegria.
Por isso, peço-te: Ama-te-me!

(Ênio César de Moraes) 

domingo, 17 de maio de 2009

Irregularidade

Sonhos vêm, sonhos vão.
O tempo, implacável, passa,
E as pessoas, olhando para o futuro,
Não veem o presente virar passado
E anseiam por um tempo que já não têm.
Com olhos que já não leem, creem, mesmo sem ver,
No que não vem, no que já não pode vir.

(Ênio César de Moraes) 

domingo, 12 de abril de 2009

Feitos um para o outro

Para Luciana e Bruno

“A distância não existe pra quem ama”,
Diz o verso da canção.
E assim o é para nosso casal:
Noite em um flat de “sampa”,
Noite em um apartamento de Brasília,
Noite no oceano abissal;
Luzes, notebooks e corações ligados.
Para eles, não importa, é sempre dia.
Bendita sinérese cibernética do hiato espaço-temporal!
Notívagos, têm na escuridão, na solitude
E quase-silêncio merencórios da noite
Inspiração,
Para o trabalho, para o amor, para o viver.
"O Sol e a Lua", dizem uns.
Em um permanente eclipse solar? Pode ser!
E, apesar dos tantos desencontros pela vida,
Ilustram a arte do encontro.
Sabem-se um do outro, sempre.

(Ênio César de Moraes) 

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ecos da guerra

De repente, no silêncio ouve-se um grito
Estrídulo, desolado, assustador.
Vozes, gemidos do povo aflito,
Personagem de um filme de terror.

Num instante, faz-se feio o bonito,
No peito nu, rumoreja o estertor.
A esperança perde-se no infinito,
O agora é solidão e desamor.

O humano vira um bicho de repente,
Num gesto de completa insanidade
Transforma vida e progresso em lixo.

O sangue banha a terra lentamente...
O bem, vencido, entrega-se à maldade,
A inteligência sucumbe ao capricho.

(Ênio César de Moraes) 

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sem vo-ser

Faz frio lá fora,
Por que ir embora?
Por que ir agora?
Não vá; fique!
Estou tão só!
Não me deixe...
Sem você, o que há de ser?
O que há do meu s r?
Se...
S...
Não me deixe!

(Ênio César de Moraes) 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ao ocaso

O espetáculo do pôr-do-sol na Praia do Jacaré, em João Pessoa

O Sol, descendo, deslizando,
Desaparecendo, lenta e suavemente, no horizonte.
No céu, nuanças, refletidas nas águas mansas do rio Paraíba,
Libertam a imaginação,
Despertam crianças.
Um caleidoscópio!
Uma pintura da mãe Natureza, que,
Ao som do Bolero de Ravel, embala o dia
E cobre-o com o manto escuro da noite.
Perfeito exemplo de sinestesia!
Clima de romance,
Momento transcendental.
Paz, serenidade, reflexão.
Felicidade ímpar.
Silêncio.
Lembrança!

(Ênio César de Moraes)